terça-feira, 6 de março de 2012


Carta

Carlos Drummond de Andrade



Há muito tempo sim, que não te escrevo.

Ficaram velhas todas as notícias.

Eu mesmo envelheci: Olha, em relevo,

Estes sinais em mim, não das carícias

(tão leves) que fazias no meu rosto:

São golpes, são espinhos, são lembranças

Da vida a teu menino, que ao sol-posto

Perde a sabedoria das crianças.



A falta que me fazes não é tanto

À hora de dormir, quando dizias

“Deus te abençoe”, e a noite abria em sonho.

É quando, ao despertar, revejo a um canto

A noite acumulada de meus dias, e sinto que estou vivo, e que não sonho.


Nenhum comentário:

Postar um comentário